Não gosto de narrativas. Mas esta é uma ocasião talvez especial. Trata-se de sair do trabalho, no Centro, às 23:20 do dia 05 e chegar em casa, em Pilares, às 06:40 do dia 06. Os empregados que saem da empresa onde trabalho após as 22 horas têm acesso ao transporte que os leva a pontos estratégicos do Centro, a fim de tomarem seus ônibus para casa.
Porém, no dia 05, choveu arrasadoramente na cidade do Rio de Janeiro. A empresa não nos liberou mais cedo, mesmo já com a notícia da tempestade, do trânsito parado e do Metrô interditado já às 19 horas. Como se não bastasse, o supervisor da empresa de transporte incumbida de nos levar aos pontos estratégicos não permitiu a saída das vans, já que todo o Centro estava alagado, sem condições para os veículos seguirem destino.
Tive de ir com os meus colegas à pé, do Passeio à Central, sob torrente e sobre alagamentos. Chegamos à Central por volta da meia-noite e meia.
Meus colegas conseguiram se resolver e tomaram suas conduções. Eu gostaria de pegar a linha 298, que me deixaria mais perto de casa. Esperei até 01:40 e peguei um ônibus da linha 254.
Embarquei. Pontos de alagamento ainda na Av. Presidente Vargas deixavam o trânsito complicado; somente os veículos maiores, como os ônibus, conseguiam prosseguir. Os carros ficaram parados no caminho.
Por volta das 02:10, o ônibus estava na Praça da Bandeira, próximo ao Estádio do Maracanã onde, por conta de um alagamento intransponível, o trânsito parou.
A chuva não deu trégua e era evidente que o alagamento não cederia, visto que se tratava de transbordo do Canal do Maracanã.
O motorista desligou o motor do ônibus, para que não afogasse. Todos nós, tripulantes e passageiros da linha 254, prefixo 42663 da Viação Acari, ficamos no local, assim como todos os outros veículos.
Resolvi cochilar. Acordei às 03:50, quando o motorista religou o ônibus. Estava de marcha à ré, manobrando o veículo, a fim de realizar uma manobra arriscada. Alternou para a contra-mão, pista da esquerda, passando por cima do canteiro central, invisível por conta do alagamento, para não mais ter veículos à frente, e assim, prosseguir viagem. A região alagada deveria ter por volta de 100 metros. A manobra teria sido um sucesso, não fosse o motor se afogar restando mais ou menos 20 metros para o "asfalto seco". Ilhados, tivemos de ficar no veículo. Não adiantaria se aventurar pelo mar de sujeira, sair para tomar outro ônibus, pois o trânsito não fluía em sentido algum, e os serviços ferroviários ainda não estavam em funcionamento.
Resolvi cochilar outra vez, não por não ter nada a fazer, mas por cansaço, mesmo. Não consegui. Comecei a manuscrever este texto no meu caderno parcialmente molhado, enquanto via carros tentando transpor a passagem, boiando no caminho e se afogando.
Por volta das 05 horas, fomos plotados por uma viatura dos Bombeiros. Fomos orientados a não sair do ônibus, pois eles viriam com reforços para nos resgatar.
A pista da direita já estava seca, e por lá os veículos que estavam presos na Praça da Bandeira começavam a passar. Às 05:40, os bombeiros chegaram para o nosso resgate. Fomos retirados do ônibus e encaminhados à pista da direita, onde houvera acabado de chegar outro ônibus da linha 254, para que prosseguíssemos viagem.
E assim se fez. Embarcamos no 254 de prefixo 42514. Fato curioso: era a primeira viagem do carro - saiu de Madureira às 20:00, chegou à Praça XV à 01:00 e ainda estava no Maracanã às 06:00.
Desembarquei às 06:25 no Largo da Abolição. Cheguei em casa às 06:40.
Lições:
1) Nunca dar o sangue à empresa, porque ela se lixa para a gente;
2) Em vez de encarar a força da Natureza, é melhor procurar um bar e beber até a parada ficar mais calma;
3) Sempre estar acompanhado e aceitar a proposta de todos irem juntos passar a tempestade na casa de um colega que more mais perto.
Claro que eu não aprendi as lições.
Mas que foi divertido, ah, foi!
Eu já deveria estar chegando à faculdade neste instante, mas meu pai falou para eu ficar aqui em casa dormindo até a hora de ir trabalhar... obedecê-lo-ei.
Bem, já revisei o texto. Há alguns erros, mas vou deixar assim, mesmo.
***QuímicoBaterista***